A ESQUIZOFRENIA NA COMPREENSÃO ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL: EVOLUÇÃO HISTÓRICA E PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS

Nicole Batista Krachenski, Emily Correa Oliveira

Resumo


Desde o encarceramento dos loucos até a “libertação” dos manicômios, a concepção de loucura já foi compreendida e tratada de diferentes formas. A Análise do Comportamento iniciou seus estudos sobre tal fenômeno no início da Reforma Psiquiátrica brasileira, acompanhando suas mudanças históricas. No entanto, ainda que fora dos cárceres e manicômios, a loucura – sendo hoje tratada predominantemente pelo termo esquizofrenia – continua apresentando uma posição de periculosidade social. Assim, considerando tantas modificações ao longo do tempo no que diz respeito à esquizofrenia e seu tratamento, é notória a importância de nos perguntarmos se houve alguma evolução histórica em relação à compreensão da esquizofrenia na Análise do Comportamento. Por isso, o presente trabalho procurou identificar quais os objetivos dos procedimentos empregados por analistas do comportamento para lidar com indivíduos esquizofrênicos, bem como de que forma ocorreu a evolução histórica desses objetivos. Além disso, pretendemos verificar criticamente a adequação de tais objetivos. Para tanto, foi realizada uma revisão de literatura de acordo com o método de Tourinho, partindo de duas categorias de fontes - quais sejam, periódicos que contemplassem artigos sobre tratamentos e/ou psicoterapias analítico-comportamentais e capítulos de livros e manuais de psicoterapia com fundamentação analítico-comportamental. O levantamento de informações mostrou que, embora alguns analistas do comportamento tenham proposto técnicas diferentes das apresentadas inicialmente em seus estudos, a maioria das publicações ainda apresenta uma perspectiva manicomial.


Palavras-chave


Esquizofrenia; tratamento; Análise do Comportamento.

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